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A informação líquida: breve contextualização

por Richele Grenge Vignoli*


A informação líquida é resultado da tese intitulada “Informação líquida: contribuições teóricas à Ciência da Informação e à Organização do Conhecimento”, defendida em 2021, no Programa de Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista, Campus de Marília-SP.

Durante o percurso de desenvolvimento da definição de informação líquida, que é inédita no Brasil e no mundo, buscou-se por uma denominação de informação que pudesse representar a efemeridade e fluidez da informação e do conhecimento como traços hodiernos da sociedade contemporânea.


Em sua definição, a informação líquida é prospectada no contexto da Ciência da Informação e para áreas correlatas. Em sua trajetória conceitual, aspectos das áreas do conhecimento que sucederam a Ciência da Informação, como a Biblioteconomia, a Bibliografia, a Documentação e Organização do Conhecimento, como campo, foram investigados com intuito de proporcionar sustentação teórica e histórica a definição que se propunha a desenvolver.


A informação líquida empresta o adjetivo líquido das publicações do sociólogo polonês Zygmund Bauman, e especialmente, de sua obra Modernidade Líquida de 2001. Em uma sociedade caótica e em pleno estado de provisoriedade, a informação líquida é definida na pululância e efemeridade das necessidades da sociedade pós-moderna. A informação líquida pode ser considerada como uma definição pós-moderna para sujeitos na mesma condição. Como definição:


A informação líquida é disforme, atemporal e desmaterializada. É híbrida, ubíqua, aberta, rizomática e incomensurável. A informação líquida é de produção e de interesse de todo indivíduo e sujeito da informação, pós-humano e líquido. Em sua organização, fechamentos ou restrições classistas, físicos e semânticos são inadmissíveis. A informação líquida visa representar o conhecimento e a informação nos movimentos e fluxos da sociedade em todo espaço, lugar e não lugar que possa ocupar, tem elevada capilaridade e penetração social. Sua condição é temporária, instável, flexível e fugidia. Está essencialmente no polo virtual, é uma entidade sem corpo, maquinicamente hibridizada, desterritorializada e desmaterializada. (VIGNOLI, 2021, p. 426).


Conforme definição da informação líquida, sua qualidade de ser disforme, atemporal e desmaterializada significa que seus objetos não possuem formas ou formatos pré-estabelecidos ou estabelecidos que se sustentem no tempo e espaço. Sua desmaterialização corresponde a falta de necessidade de um corpo material para sua existência. É a informação utilizada diariamente, especialmente de maneira virtual. Como um objeto em estado de mutação e ressignificação constante, a informação líquida está apta a modificações, essencialmente no polo virtual. Nesse sentido, a materialidade da informação como o que está ligado a matéria, suporte físico ou a ideia de registro, perdem sua significância, mas não são anuladas na informação líquida. Para tanto, a informação líquida deve ser representada e está presente em todo espaço, lugar e não lugar que possa ocupar. Não há restrições geográficas, espaço-temporais ou virtuais para o seu surgimento e pertencimento, ainda que passageiro.


Os fechamentos ou restrições classistas, físicos e semânticos são inadmissíveis devido a valoração da informação e do conhecimento para além dos ditames e regras da Organização do Conhecimento, por exemplo. É por isso que uma informação advinda de sujeitos não especialistas, ou de gênese não científica é incorporada ao seu núcleo. Memes, posts e outros tipos de informação contemporâneas são parte do arquétipo da informação líquida.


Por visar ampla penetração social, a informação líquida busca inserir todo tipo de informação e conhecimento em seu núcleo, inclusive o de gênese das redes sociais e de pressupostos da ciência aberta e cidadã. A informação líquida continua a valorizar a informação advinda de ambientes técnicos-científicos, mas roga a valoração da informação e do conhecimento gerados e compartilhados para além de parâmetros tradicionais de publicação, como editoras comerciais ou autoria estabelecida.


Os sujeitos da informação são expandidos para líquidos porque são criadores, consumidores, críticos e são homem, máquina e homem-máquina. A realidade pós-humana de sujeitos hibridizados à máquina é condizente com a informação líquida que a discute em seu acoplamento ou junção ao ser humano.


A informação líquida possui cinco atributos que buscam diferenciá-la, e ao mesmo tempo, individualizá-la como um fenômeno de discussão na Ciência da informação. Os atributos da informação líquida são:


Híbrida - “A informação líquida como híbrida é sustentada na multiplicidade de formas, formatos, suportes, mídias, por linguagens, tecnologias e em suas manifestações entre espaços, lugares e não lugares.” (VIGNOLI, 2021, p. 428, grifo do autor). A hibridez da informação líquida a demonstra como um objeto capaz de se misturar entre formas, formatos, tecnologias múltiplas, linguagens e outras características.


Ubíqua - “A informação líquida como ubíqua visa potencializar as formas de acesso à informação em sua localização atemporal, integral, entre espaços, lugares e não lugares, a todo sujeito da informação e na capacidade de produção de informação e conhecimento com e por dispositivos diversos.” (VIGNOLI, 2021, p. 449, grifo do autor). Por isso, o crucial da ubiquidade é o acesso à informação, que se expande e não é calcado na locomoção geográfica ou na informação de acesso restritivo ou ligadas a objetos físicos. A desmaterialização permite que a informação líquida esteja presente em qualquer espaço/lugar.


Aberta - “A informação líquida como aberta indica o movimento da informação e do conhecimento com ilimitada disponibilidade considerando o sujeito da informação como autor do conhecimento.” (VIGNOLI, 2021, p. 471, grifo do autor). A informação se justifica como aberta em suas possibilidades de disponibilidade, de produção para além do escrutínio técnico-científico e nos movimentos de abertura da ciência, como a ciência cidadã que valoriza o conhecimento não especializado. É uma informação advinda e direcionada a todo cidadão.


Rizomática - “A informação líquida e rizomática é conectiva, heterogênea, acontece na multiplicidade, está apta a rupturas, é contra o decalque, dicotomias e estruturas fechadas, está em movimento cartográfico, desmaterializada e no polo virtual.” (VIGNOLI, 2021, p. 492, grifo do autor). Assim como o rizoma, a informação líquida aponta para todos os lados (conexão), mas não se fixa em nenhum. A informação líquida não se fecha em sistemas, hierarquias ou estruturas, tal como é um rizoma. A informação tratada na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento como um documento materializado e preso a estruturas. A materialidade e estrutura, por muitas vezes, buscam impedir a informação de expansão e de movência entre entidades virtuais no próprio ciberespaço. A informação líquida e rizomática está altamente conectada sem amarras hierárquicas e decalcadas.


Incomensurável - “O foco das discussões da informação líquida como incomensurável está voltado às questões de controle da informação nos espaços analógicos e virtuais, em fenômenos informacionais que afetam a proporcionalidade e a qualidade da informação e, sobretudo, na informação desmaterializada e como líquida no atributo da incomensurabilidade.” (VIGNOLI, 2021, p. 506, grifo do autor). A informação líquida e incomensurável se prospeta no impedimento de manter controle no objeto frente às tecnologias da informação e comunicação e, principalmente, diante do polo virtual. A informação encontra contratempos em proporcionar algum tipo de controle, tanto humano como mecânico, na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento. A incomensurabilidade demonstra a incapacidade de medição ou controle da informação, tanto em sua materialização quanto em sua desmaterialização.


Como uma breve explanação, a informação líquida é definida e demonstrada para debates e reflexões na Ciência da Informação. É sempre válido reforçar que a informação líquida não é uma informação majoritariamente virtual ou que se opõe a sua materialização. Ao contrário disso, trata-se uma informação que representa como a sociedade age e se informa, sobre suas necessidades informacionais e que busca ampliar a campo de atuação da Ciência da Informação valorizando o conhecimento comum, que não é somente o técnico e o científico. Também não é o caso de realizar de forma virtual o que antes se fazia manualmente. Esse tipo de ação já é realizada na Ciência da Informação e, não é o bastante para compreender a informação líquida.


O pensamento da informação líquida deve ser voltado para a informação que é fugidia, que tem dificuldade de permanência e pertencimento, como o que outrora foi fundamental. É lidar com o que se modifica a todo momento, como o que não é possível controlar ou contemplar nas tradicionais ferramentas da Organização do Conhecimento. É uma mudança de comportamento diante da condição pós-moderna da informação e da sociedade.


Referência


VIGNOLI, Richele Grenge. Informação líquida: contribuições teóricas à ciência da informação e à organização do conhecimento. 2021. 606 p. Tese (Doutorado em Ciência da Informação). Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marília, SP, 2021. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/216385. Acesso em: 01 jul. 2022.



Dados biográficos da autora


Richele Grenge Vignoli é doutora em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Unesp de Marília - SP. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) e Graduou-se em Biblioteconomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Pesquisa a informação líquida, a epistemologia da Ciência da Informação, da informação e seus conceitos, a Bibliografia, a Documentação, a Biblioteconomia e suas relações com a Ciência da Informação, as TIC, a pós-modernidade, o pós-humano, o sujeito da informação e outros elementos.

E-mail: rivignoli@gmail.com

 

Como citar


VIGNOLI, R. G. A informação líquida: breve contextualização. Ciência da Informação Express, [S. l.], v. 3, 14 jul. 2022.

 

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